terça-feira, 28 de abril de 2009

Da luta contra os moinhos de vento

O Altamir, blogueiro amigo deste Meia hora por dia, constata em seu "Altavolt na contramão" (link aí ao lado ou aqui) que os grotescos assolam o Brasil, assim identificados os não-cidadãos em geral.

Pois, como nada acontece por acaso, quase ao mesmo tempo recebo da amiga Bete este relato sobre uma professora sem educação e policiais que desconhecem a lei, "grotesquices" que levam uma cidadã à beira de um ataque de nervos.

O relato é um tanto extenso, mas segue na íntegra para se perceber toda a indignação e toda a impotência ante os gigantes grotescos.

Só para lembrar, foi a Bete que, entre tantas colaborações com o blog, havia enviado fotos do embate entre ciclistas e pedestres em Santa Felicidade, bairro daqui.

"ACONTECEU COMIGO NA SEXTA-FEIRA PASSADA
Eu encontrei uma ciclista disputando espaço comigo na calçada, atrapalhando e incomodando a minha pequena caminhada após o almoço, quando resolvi exercer o meu direito de cidadã e perguntar a ela o seguinte: “você acredita que não atrapalha ninguém andando montada na sua bicicleta aqui nessa calçada estreita”?
Ela me responde curta e grossa: “você quer que eu ande aonde”?
Ah!!!! Quantas boas respostas eu poderia dar a essa cidadã!!!
Antes de tudo ela fez questão de dizer: Você está me atrapalhando e me atrasando, eu sou PROFESSORA. Não me incomode! Estou atrasada!!!
Mas eu, com toda paciência ainda insisti e falei que eu não poderia responder ONDE ela poderia andar, mas só poderia dizer que ali não é local apropriado para ciclista montado na bicicleta. Que o Código Nacional de Trânsito diz que o ciclista pode andar na calçada só desmontado da bicicleta.

Ai ela me fez a célebre pergunta:
“E quem vai me multar? Você? Eu ando aqui sempre e vou continuar andando. Ninguém vai me multar e vou embora porque estou atrasada”.
Bem, eu pensei comigo: “Ela está dizendo que é Professora. Não pode ser que ela desconheça tanto assim as leis, mesmo porque ela está em cima da calçada com uma bicicleta que se bater em alguém pode ferir e até matar”.
Mas não teve mesmo acordo. Ela disse que eu não podia estar falando com ela porque ela não me deu o direito de dirigir palavra, e quem eu pensava ser falando com ela, etc, etc, e coisas que não esperava ouvir de uma PROFESSORA.
Nesse momento a Policia Militar estava passando e eu os chamei. Eles se aproximaram e eu expliquei que estava solicitando àquela senhora – PROFESSORA – para não andar montada na bicicleta na calçada. Eles falaram que não podiam multar porque não existe respaldo legal.
Ai ela se achou certa. Se sentiu dona da lei (lei que ela fez para ela) e tentou reverter a situação me constrangendo e dizendo que ela é PROFESSORA e estava atrasada para dar aula e eu – imagine – a estava impedindo de chegar a tempo na escola. Que ela precisava ir rápido.... Estava atrasada e eu a impedindo de chegar a tempo.... Quase ameaçou me processar porque eu estava impedindo de deixá-la seguir caminho. Se sentiu fortalecida porque os Policiais reafirmaram em tom de pergunta: “A senhora é Professora”? E pairou no ar um clima constrangedor para mim.
Então a situação ficou assim colocada: Ela é Professora! Essa ai é uma bandida que não me deixa ir lecionar! Ela tentou se colocar de poderosa e suprema MESTRA.
Nesse momento pensei de novo: “Ela é PROFESSORA”! Então vou pegar uma cópia do e-mail da Prefeitura que tenho aqui na bolsa e pedir para ela ler e entender que não está certo andar na calçada montada na bicicleta. Mas ninguém, nem ela nem os policiais, quiseram pegar o papel e ler. Eu li em voz alta para eles por 3 vezes. Ficaram todos olhando um para cara do outro e parados, estáticos, sem mencionar (acho que nem entenderam) nada!
Nesse momento eu pensei: acho que aqui a conversa acaba e ela aceita ao menos pensar em mudar a bicicleta de lugar.
Nada disso. Ela me falou em alto e bom tom: “Quem você pensa que é para me atrasar e me fazer perder tempo com isso?
Nessa hora, o meu acompanhante se indignou e respondeu por mim: “Ela é cidadã como você e está tentando te pedir para não atrapalhar e não arriscar a nossa vida com essa bicicleta num local impróprio”
Rápido silêncio de todos. Ela se sentiu mais ainda forte e poderosa com a reação dos policiais (afinal já tinham feito a classificação: ela é PROFESSORA e você.....).
Ela saiu, mas antes olhou para mim e meu acompanhante e falou:
“Ah, que é isso??? Vão chupar prego se vocês não tem o que fazer ....... .....e mais algumas palavras que não vou repetir aqui...........
Nossa, passei o resto do dia mal. Meu Deus como as pessoas estão egoístas e só conseguem enxergar o próprio umbigo.
Como será o futuro das crianças que estão tendo PROFESSORES como ela?????? Estão aprendendo na escola só a se defender dos PROFESSORES?
Não sentem a menor confiança em dividir uma questão de cidadania ou de direitos e deveres com o Professor."
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2 comentários:

  1. Fernando, você me emocionou com a ilustração do Dom Quixote no meu texto!
    Puxa....... tive essa ilustração em um quadro na parede do meu escritório durante anos... Ganhei de um jornalista da Veja em meados dos anos 80 (acho sempre me consideraram “sonhadora e idealista”)
    E a maior coincidência foi que, depois que escrevi aquele texto também entrei no Blog do Altamir e li o “Grotescos” e nossa............ senti minha alma lavada!!
    Obrigada. Quem sabe um dia consiga ver o fruto de meus, tão pequenos, idealismos muitas vezes considerados banais, colocados em prática!

    Beijos,

    Bete

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  2. Aproveitando o gancho (apenas por conta da biclicleta e fungindo totalmente do problema) sugiro assistir: http://www.youtube.com/watch?v=y4k1hfmcNBg

    JP

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Obrigado por comentar. Nem sempre responderei a seus comentários, o que não quer dizer que não os li. Se estão publicados, é porque os vi. Como não pretendo definir este blog como "com conteúdo adulto", a única censura, se houver, será para evitar excessos, em respeito às crianças -- de qualquer idade -- que eventualmente também lêem este blog.