sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Cachorrada

Chamou minha atenção a enfática defesa que vem sendo feita no Twitter por vereadora de Curitiba para o projeto que prevê a "chipagem" de animais domésticos nesta capital ecológica. Cada animalzinho da cidade terá que receber e portar um chip contendo não só suas informações "pessoais", como também dados a respeito de seu dono.

Coisa de primeiro mundo, diz ela, na Europa já é feito há anos, um estímulo à "posse responsável" pois não dá para ter tantos cães e gatos soltos pelas ruas (e acrescento: já que os ecochatos conseguiram acabar com a carrocinha).
(Esse aí vai ser um chip-dog?)

Hum... A primeira pergunta que me ocorreu foi a respeito da privacidade. Quais dados do proprietário? E quem vai ter acesso a essas informações?

E a segunda pergunta: quem vai arcar com os custos? Quem pagará a conta? "São só R$ 5,00, e nas regiões mais pobres ficaria por conta da prefeitura..." Ou seja, quem paga, para variar é, neste caso, o cão-tribuinte...

E dá para imaginar que 5 reais será só o custo do chip propriamente dito, porque além de pagar pelo chip da cachorrada da periferia, no fim das contas infalivelmente o cidadão que paga imposto vai acabar custeando também um "Departamento Municipal de Leitura de Chip na Bicharada", ou algo que o valha.

E não é difícil imaginar a necessidade de a Prefeitura ter que gastar com a implantação de um setor específico da Guarda Municipal, especialmente treinado para garantir a segurança do pobre barnabé encarregado de chipar o luluzinho do traficante na Vila Pinto: "-- é chipe pra vigiar nóis, é?" Pensando bem, melhor só recolher a taxa de quem paga imposto... chipar pra que?

Ora, conforme informa a própria vereadora, são 450 mil cães em Curitiba, e deve ser mais ou menos o mesmo número de gatos, para nivelar por baixo. Aí já dá uns R$ 5 milhões de reais só em chips, o que necessariamente leva à terceira pergunta: no jargão jurídico, "quid prodest"? A quem aproveitará esse dinheiro, ou enfim, quem fabricará e quem venderá o chip (e agradecerá de joelhos à -- claro que acredito -- bem intencionada iniciativa da vereadora)?

E, por fim das dúvidas, isso tudo quer dizer que eu que já exerço a posse responsável (o pobre Homer jamais sai do quintal), vou enfim poder largar meu mascote nas ruas, que a Prefeitura responderá por sua segurança?

Melhor idéia: vamos chipar os políticos! Cada vez que um tiver uma idéia que onere (ainda mais) o contribuinte, o chip automaticamente autorizará uma redução correspondente na verbinha mensal do brilhante legislador.
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Um comentário:

  1. Depois de postar lembrei do "kit primeiros-socorros" que se tentou impingir aos donos de carro. A lei pegou? Você comprou? Usou?

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